sábado, 26 de julho de 2008

A Fantástica Fabrica da TV: Veja a vida bonita e cheia de sucesso de Dercy Gonçalves

Dercy Gonçalves, nome artístico de Dolores Gonçalves Costa, (Santa Maria Madalena, 23 de junho de 1907 — Rio de Janeiro, 19 de julho de 2008) foi uma atriz brasileira, oriunda do teatro de revista e notória por suas participações na produção cinematográfica brasileira das décadas de 1950 e 1960.
Era famosa por suas entrevistas irreverentes, pelo seu bom humor e pelo uso constante de palavras de baixo calão. Foi uma das maiores expoentes do teatro de improviso no Brasil.
Nasceu no interior do estado do Rio de Janeiro, filha de um alfaiate e de uma lavadeira. Sua mãe, chamada Margarida, abandonou o lar, quando descobriu a infidelidade do esposo. A família era muito pobre, e Dercy trabalhava desde muito nova. Foi bilheteira de cinema, além de apresentar-se para hóspedes de hotel em sua cidade.
Aos dezessete anos, fugiu de casa e se juntou a uma companhia de teatro. Dercy estreou em 1929, em Leopoldina, integrando o elenco da Companhia Maria Castro. Fazendo teatro itinerante, fez dupla com Eugênio Pascoal em 1930, com quem se apresentou por cidades do interior de alguns estados, sob o nome de "Os Pascoalinos". Em 1934, Dercy teve um relacionamento com o exportador de café mineiro Ademar Martins, do qual nasceu sua única filha, Dercimar.
Já especializando-se na comédia e no improviso, participou do auge do Teatro de revista brasileiro, nos anos 1930 e 1940, estrelando algumas delas, como "Rei Momo na Guerra", em 1943, de autoria de Freire Júnior e Assis Valente, na companhia do empresário Walter Pinto.
A partir da década de 1960, Dercy inicia espetáculos em solitário. As apresentações, feitas em teatros de todo o país, conquistam um público ainda cheio de moralismos. Nesses espetáculos aos poucos introduziu um monólogo no qual contava fatos autobiográficos de sua vida. Ao largo dessas apresentações, atuou, desde o início na Revista, em diversos filmes do gênero chanchada e comédias nacionais.
Na televisão, chegou a ser a atriz mais bem paga da TV Excelsior em 1963, onde também conheceu o executivo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Depois passou para a TV Rio e já na TV Globo, convenceu Boni a trabalhar na emissora, junto de Walter Clark. De 1966 a 1969 apresentou na TV Globo um programa de auditório de muito sucesso, Dercy de Verdade (1966-1969), que acabou saindo do ar com o início da Censura no país. No final dos anos 1980, quando a censura permitiu maior liberalismo na programação, Dercy passou a integrar corpos de jurados em programas populares, como em alguns apresentados por Sílvio Santos, e até aparições em telenovelas da Rede Globo. No SBT voltou a experimentar um programa próprio que, entretanto, teve curtíssima duração.
Sua carreira foi pautada no individualismo, tendo sofrido, já idosa, um desfalque nas economias por parte de um empresário inescrupuloso — o que a fez retomar a carreira, já octogenária.

Todas as manhãs, a solidão me deixa deprimida. Moro sozinha, tem três pessoas que se revezam para me acompanhar. Minha filha não mora comigo. Filho não gosta de mãe; é a mãe que gosta do filho. Eles crescem, ganham independência e passam a ter prioridades. Eu me animo no cair da tarde, às 16h mais ou menos. Luto para ter forças para sair. Aí me arrumo, vou pro bingo. Lá, sou muito bem tratada, ganho cartelas e me distraio. À noite, vou a festas, jantares, adoro comer. E volto pra casa, durmo feliz. Assim são meus dias, sem expectativa.

— Dercy, em um desabafo
Recebeu, em 1985, o Troféu Mambembe, numa categoria criada especificamente para homenageá-la: Melhor Personagem de Teatro.
Em 1991, foi enredo ("Bravíssimo - Dercy Gonçalves, o retrato de um povo") do desfile da Unidos do Viradouro, na primeira apresentação da escola no Grupo Especial das escolas de samba do Carnaval do Rio de Janeiro. Na ocasião, Dercy causou polêmica ao desfilar, no último carro, com os seios à mostra.
Sua biografia se intitula Dercy de Cabo a Rabo (1994), e foi escrita por Maria Adelaide Amaral.
Em 4 de setembro de 2006, aos 99 anos, recebeu o título de cidadã honorária da cidade de São Paulo, concedido pela câmara de vereadores desta capital.
No dia 23 de junho de 2007, Dercy Gonçalves completou cem anos com uma festa na praça General Brás, no centro do município de Santa Maria Madalena (sua cidade natal) na região serrana do Rio de Janeiro. Na festa, Dercy comeu bolo, levantou as pernas fazendo graça para os fotógrafos, falou palavrão e saudou o povo, que parou para acompanhar a comemoração. Embora oficialmente tenha completado cem anos, Dercy afirma que seu pai a registrou com dois anos de atraso, logo teria completado 102 anos de idade.
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Eu fiz 94 [anos], mas me digo que estou com 95 para me energizar e chegar lá. Escrevem o que eu digo: eu só vou morrer quando eu quiser! Não programo morte, eu programo vida!
Morreu com 101 anos,às 16h45, no dia 19 de julho de 2008, no Hospital São Lucas, em Copacabana, Zona Sul do Rio de Janeiro. Ela foi internada na madrugada do sábado dia 19 de julho. A causa da morte teria sido uma complicação decorrente de uma pneumonia comunitária grave, que evoluiu para uma sepse pulmonar e insuficiência respiratória. O estado do Rio de Janeiro decretou luto oficial de três dias em memória à atriz.
Filmografia
1943 - Samba em Berlim
1944 - Abacaxi Azul
1944 - Romance Proibido (Dercy)
1946 - Caídos do Céu (Rita Naftalina)
1948 - Folias Cariocas
1956 - Depois Eu Conto
1957 - A Baronesa Transviada (Gonçalina / Baronesa)
1957 - Absolutamente Certo (Bela)
1957 - Feitiço do Amazonas
1958 - Uma certa Lucrécia (Lucrécia)
1958 - A Grande Vedete (Janete)
1959 - Cala a Boca, Etelvina (Etelvina)
1959 - Entrei de gaiato(Anastácia da Emancipação)
1959 - Minervina Vem Aí (Minervina)
1960 - A Viúva Valentina (Valentina)
1960 - Dona Violante Miranda (Violante Miranda)
1960 - Com Minha Sogra em Paquetá
1960 - Só Naquela Base
1963 - Sonhando com Milhões
1970 - Se Meu Dólar Falasse
1980 - Bububu no Bobobó
1983 - O Menino Arco-Íris
1993 - Oceano Atlantis
2000 - Célia & Rosita (curta-metragem)
Televisão
1966: Dercy Espetacular - programa de variedades (Globo)
1968: Dercy de Verdade - programa de variedades (Globo)
1971: Dercy em Famlia - programa de variedades (Record)
1971: Família Trapo - participação como a namorada de Bronco (Record)
1980: Cavalo Amarelo - Dulcinéa (Rede Bandeirantes - Troféu Imprensa de Melhor Atriz, empate com Dina Sfat)
1980: Dulcinéa vai à guerra - Dulcinéa (Rede Bandeirantes)
1984: Humor Livre (Globo)
1989: Que Rei Sou Eu? - Baronesa Eknésia (participação especial) (Globo)
1990: La Mamma - Mamma (Globo)
1992: Deus nos Acuda - Celestina (Globo)
1994: Brasil Especial (Globo)
1996: Caça Talentos - Miss Dayse (Globo)
1996: Sai de Baixo - Mãe de Vavá e Cassandra (participação especial) (Globo)
2000: Fala Dercy (SBT)
2001: A Praça é Nossa - participações como ela mesma (SBT)
Frases
Quem me criou foi o tempo, foi o ar. Ninguém me criou. Aprendi como as galinhas, ciscando, o que não me fazia sofrer eu achava bom.
Tudo que passou, acabou. Eu sobrevivi.[
O ontem acabou. Não tenho mágoa de nada e nem saudade de nada. Vivo o hoje. Tenho alegria de viver, adoro a vida". - Dercy Gonçalves, falando sobre a vida.
Eu já fui acusada de tudo. Eu era "negrinha" [sua avó era negra], menina de rua, mas nada disso me atingiu porque eu não sabia o que era o mundo. Não tinha nem amigos. Passeava na rua e era perseguida com 7, 10 anos, porque o negro é perseguido há séculos. - Dercy Gonçalves sobre a infância.
Não acredito em santo nenhum. Minha religião é a natureza. Deus é um apelido. Ele pra mim não existe. O que existe é a natureza. Deus é fantasma, mas a natureza é a verdade.
Não podia levantar o braço na passarela. Arriei e fui dançando e cantando. Tinha os seios lindos naquela ocasião. Mostrei. Houve gritaria, escândalo, mas por quê? Os seios são a coisa mais linda na mulher". - Dercy Gonçalves, sobre ter mostrado os seios durante desfile em sua homenagem no carnaval carioca, aos 84 anos.


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